Bem vindos á Escuela de Danza ZAMBRA GITANA

Este blog é especialmente dedicado aos alunos ZAMBRA GITANA para que possam acompanhar as notícias, novidades, agenda e tudo que acontece em nossa Escuela ...


ESCUELA DE DANZA FLAMENCA ZAMBRA GITANA
Av. Rio Branco, 938 - Lídice /UBERLÂNDIA - MG

adrianademarco@bol.com.br





terça-feira, 9 de novembro de 2010

Entrevista de Lorca ! Texto em que foi baseado o espetáculo

Federico García Lorca
Pequeno Poema Infinito


Nasci em Fuente Vaqueros, uma aldeia muito
quieta e perfumada na várzea de Granada. Tudo
o que nela acontecia e todos os seus sentimentos
e sensações passam hoje por mim velados pela
nostalgia da infância e pelo tempo.
O casario é pequeno e branco e está todo beijado
de umidade. A água dos rios, pelas manhãs ao
evaporar-se, o cobre de gases frias, tão de prata e
níquel, que quando sai o sol, de longe, parece uma
grande pedra preciosa. Logo, ao meio dia, as névoas
se dissipam e se vê o casario dormindo sobre
uma manta verde. A torre da igreja é tão baixa que
não se destaca das casas e quando soam os sinos,
parece que o fazem desde o coração da terra.
Ao aproximar-se há um cheiro imenso de ervadoce
e aipo silvestre que vivem nas noites. Com
a lua, as estrelas e as roseiras em flor, formam
uma essência divina que faz pensar no espírito
que as criou. Nestas noites os homens sentem
mais os bordões sangrentos de um violão...
A aldeia está formada por uma grande praça
bordeada de bancos e álamos e várias ruelas
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escuras e medrosas onde o inverno põe os fantasmas
e aparições. A praça é larga e de um lado
está a igreja com seus frisos de ninhos e vespeiros.
Na porta há uma cruz de madeira com um
lampião coberto de teias de aranha e cercada de
louros e trepadeiras. Coroando a fachada está a
Virgem das Paridas com o seu menino nos braços,
carcomida de umidade e carregada de ex–votos
e medalhas ..
Na frente da igreja está a casa onde eu nasci.
É grande, pesada, majestosa em sua velhice...
Tem um escudo no portal e umas grades
que soam como sinos. Quando criança,
meus amiguinhos e eu tocávamos nelas com
uma barra de ferro e seu som nos deixava
loucos de alegria (...) e fingíamos tocar pelo
fogo, pelos mortos, pelos batizados... Por
dentro a casa é fria e baixa. Nos seus balcões
as professoras diziam versos e cantares
quando passava a Virgem do Amor Formoso
e eu era o rei com uma bengala na mão.
Nessa aldeia tive a minha primeira fantasia de
distância. Nesta aldeia serei terra e flores... Suas
ruas, suas gentes, seus costumes, sua poesia e
sua maldade serão como o andaime onde se
aninharão minhas ideias de menino fundidas no
cadinho da puberdade.

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Inverno
Mas dezembro avança, o céu fica limpo, chegam
as manadas de perus e um som de pandeiros,
chocalhos e zambombas se apodera da
cidade. Pelas noites dentro das casas fechadas
se continua ouvindo o mesmo ritmo, que sai
pelas janelas e chaminés como se nascessem
diretamente da terra. As vozes vão subindo de
tom, as ruas se enchem de quiosques iluminados,
de grandes montes de maçãs, os sinos da
meia-noite se unen com os sininhos que as
freiras tocam ao nascer do dia, a Alhambra está
mais escura do que nunca.
(...) Já estão as freiras Tomasas colocando em São
José um chapéu de cor amarela e na Virgem uma
mantilha com seu pente de prender o cabelo. Já
estão as ovelhas de barro e os cachorrinhos de
lã subindo pelas escadas em direção ao musgo
artificial. Começam a soar os raladores e tampas
de panelas e todos os utensílios de cobre cantam
o alegríssimo romance dos peregrinitos:
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Romance de los Peregrinitos
Hacia Roma caminan
dos pelegrinos,
a que los casa el Papa
porue son primos.
Sombrierito de hule
Lleva el mozuelo,
Y la pelegrinita,
De terciopelo
Al passar por el puente
De la Victoria,
Tropezó la madrina,
Cayó la novia.
(...)
Cantam as pessoas nas ruas em grupos alegres,
cantam as crianças com as criadas, cantam as
rameiras bêbadas nessas carruagens com as
cortinas fechadas, cantam os soldados quando
se lembram de suas aldeias enquanto se deixam
pintar nas margens dos rios.
É a alegria da rua e a humor andaluz e a sutileza
inteira de um povo cultíssimo.
Las campanas de Roma
ya repicaron,
Porque los pelegrinos
Ya se han casado.

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Infância
As emoções da infância estão em mim. Ainda
não saí delas. (...)
Sou um pobre garoto apaixonado e silencioso
que, quase como o maravilhoso Verlaine, tenho
dentro uma açucena impossível de regar e apresento
aos olhos bobos dos que me olham uma
rosa muito encarnada, que não é a verdade do
meu coração. (...) Meu tipo e meus versos dão a
impressão de algo formidavelmente passional...
entretanto, no mais fundo da minha alma há um
desejo enorme de ser bem menino, bem pobre,
bem escondido.
Minha vida? Será que eu tenho uma vida?
Contar minha vida seria falar do que sou e a
vida de uma pessoa é o relato do que se foi. As
lembranças, até da minha mais longínqua infância,
são em mim, apaixonado tempo presente.
E vou contar. É a primeira vez que falo disso, que
sempre foi só meu, íntimo, tão privado, que nem
eu mesmo nunca quis analisar. Quando eu era
criança, vivia em pleno ambiente de natureza.
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Como todas as crianças, conferia a cada coisa,
móvel, objeto, árvore, pedra, a sua personalidade.
Conversava com elas e as amava. (...)
No quintal da minha casa havia umas árvores,
uns choupos. Uma tarde imaginei que os choupos
cantavam para mim. O vento, ao passar por
seus ramos, produzia um ruído que variava de
tom e que a mim me pareceu musical . E eu costumava
passar as horas acompanhando com a
minha voz a canção dos choupos...Outro dia me
detive assombrado. Alguém pronunciava meu
nome, separando as sílabas como se soletrasse:
“Fe...de...ri...co...” Olhei para todos os lados e
não ví ninguém. Entretanto, em meus ouvidos
seguiam sussurrando o meu nome. Depois de
escutar por um longo tempo, encontrei a razão.
Eram os ramos de um velho salgueiro que ao
roçar-se produziam um ruído monótono, queixoso,
que parecia meu nome. (...)
A criação poética é um mistério indecifrável,
como o mistério do nascimento do homem.
Se ouvem vozes não se sabe de onde e é inútil
preocupar-se de onde elas vêm. Como não me
preocupei em nascer, não me preocupo em mor-
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rer. Escuto a Natureza e ao homem com assombro,
e copio o que me ensinam sem pedantismo
e sem dar às coisas um sentido que não sei se elas
têm. Nem o poeta nem ninguém tem a chave e
o segredo do mundo. (...)
Amo a Terra. Me sinto ligado a ela em todas as
minhas emoções. Minhas mais longínquas lembranças
de criança têm sabor de terra. A terra, o
campo, fizeram grandes coisas na minha vida. Os
bichos da terra, os animais, a gente camponesa,
têm ideias que chegam a muito poucas pessoas.
Eu as capto agora com o mesmo espírito dos
meus anos infantis. Caso contrário não teria
podido escrever Bodas de Sangue e não teria começado
minha próxima obra Yerma. Este Amor
a Terra me fez conhecer a primeira manifestação
artística. É uma breve história digna de se contar.
Foi lá pelo ano de 1906. Minha terra de agricultores
havia sido sempre arada por velhos arados
de madeira que apenas arranhavam a superfície.
E naquele ano, alguns lavradores compraram os
novos arados Bravant – o nome ficou para sempre
em minha lembrança. Eu, menino curioso,
seguia por todo o campo o vigoroso arado da
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minha casa. Eu gostava de ver como a enorme
pá de aço abria um talho na terra, talho de onde
saiam raízes em lugar de sangue. Uma vez o
arado se deteve. Havia tropeçado em algo consistente.
Um segundo mais tarde, a folha brilhante
de aço tirava da terra um mosaico romano. (...)
Esse meu primeiro assombro artístico está unido
a terra. (...) Minhas primeiras emoções estão ligadas
a terra e aos trabalhos do campo. Por isso
há na minha vida um complexo agrário, como
chamariam os psicanalistas.


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Pobreza
Na terra encontro uma profunda sugestão de
pobreza. E amo a pobreza por sobre todas as
coisas. Não a pobreza sórdida e faminta, mas
a pobreza bem-aventurada, simples, humilde
como o pão moreno.
Faz alguns anos, passeando pelas imediações
de Granada, ouvi uma mulher do povo cantar
enquanto adormecia o seu menino. Uma canção
cheia de uma melancolia oculta. Sempre havia
notado a aguda tristeza das canções de ninar do
nosso país; mas nunca senti essa verdade tão concreta.
Ao me aproximar da cantora para anotar
a canção observei que era uma andaluza bonita,
alegre, sem o menor traço de melancolia; mas
uma tradição viva trabalhava nela e executava
o seu mandado fielmente, como se escutassem
as velhas vozes imperiosas que patinavam por
seu sangue.
Quem a canta? Esta é a voz mais pura de Granada,
a voz elegíaca, o choque do Oriente com
o Ocidente em dois palácios quebrados e cheios
de fantasmas. O de Carlos V e a Alhambra.
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Nana de Sevilla
Este galagaguito
no tiene mare.
lo parió una serrana,
lo echó a la calle.
Acalanto de Sevilha
Este nenenzinho
Não tem mãe
O pariu uma cigana
E o deixou na rua
No povoado vivia uma menina loura, queimada
pelo sol. Em sua boca tinha sangue e brilho de
lua e seus olhos eram muito pequenos, com pontinhos
de ouro e prado... Duas longas tranças que
lhe chegavam até os pés, um vestido vermelho
com bolinhas brancas... Uma flor no cabelo e as
mãos cortadas de tanto lavar as roupas de seus
irmãos nas águas da várzea. Seu pai era um pobre
diarista que estava reumático pelo trabalho
e pela umidade, e a mãe, que tinha trinta anos,
parecia que tinha cinquenta por causa das dores
e da fecundidade de suas entranhas. E então a
mãe ia até a minha casa suplicar que, pelo amor
de Deus, a ama que estava criando o meu irmão
fosse até a sua casa para que seu bebê mamasse
um pouquinho porque senão morreria de fome.
Minha mãe ordenava que fosse imediatamente
e quando a ama chegava e botava o menino
em seus joelhos, enquanto tirava suas grandes
tetas brancas com veias azuis, o bebê suspirava
ofegante, rindo e chorando. Como isso acontecia
com muita frequência, fiz uma grande amizade
com a menina e pelas tardes ia até lá para levar
esmolas da minha mãe, para ver a nascente que
tinha no terreno e recolher pedrinhas brancas
que pareciam cristal. Me dava tanta pena ver
aquela casa toda escura e cheia de sujeira!...
O chão era de terra e o teto de bambus... Os
únicos móveis que possuíam eram uma mesa dobrável,
umas quantas cadeiras desencontradas,
um candeeiro enferrujado e um quadro muito
grande da Virgem que estava entre nuvens escuras,
cuja umidade e poeira haviam convertido
num monstruoso borrão. Quando chegava naquele
antro de miséria e honradez, a mãe, com
os cabelos duros e desgrenhados, se levantava
como um espectro e limpando a boca, me beijava
com temor... Aquela mártir da vida e do trabalho
tinha uma suavidade na voz e um olhar tão
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doce que teríamos que ser como cães raivosos
para não nos compadecermos e chorarmos o
seu calvário... Aquela mulher, cujo ventre havia
guardado tantas vidas para logo vê-las morrer de
fome e de miséria, aquela santa destroçada por
um homem e sacrificada por seus filhos era tão
grande, tão majestosa e tão resignada que eu
sentia diante dela temor por sua figura e amor
por sua vida de tantas dores.
Muitas vezes me dizia: Menino, amanhã não venha,
porque temos que lavar a roupa... E eu não
ia. Que tragédias tão fundas e tão caladas! Não
podia ir porque estavam desnudas e tremendo
de frio, lavando os seus farrapos, os únicos que
tinham...
(...) Quando voltava para minha casa e olhava o
armário cheio de roupas limpas e perfumadas,
sentia uma grande inquietude e um peso frio
no coração... (...)
Por muito tempo que passe, por muitas coisas
que passem pela minha alma, nunca se
apagará, nunca se borrará da minha alma a
imagem daquela mãe. Os ossos rompendo-
-lhe a roupa e seu olhar vindo do além...
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sobretudo o seu olhar estará como uma
lembrança eterna por ser a primeira impressão
trágica que tive da miséria... Na Andaluzia,
nestes povoados carregados de cheiro
e som, todas as mulheres pobres morrem
da mesma coisa, de dar vidas e mais vidas.
(...) Digo isso porque me criei entre essas vidas de
dor. (...) Quantas vezes vi o enterro de uma mãe
com o filho entre suas pernas, ambos mortos de
miséria e falta de assistência... (...) Os enterros
que de pequeno me entusiasmavam por suas
caixas brancas e suas gases e flores, hoje eu vejo
passar e fecho os olhos espantado, porque dentro
daquele corpo frio, quem sabe que coração
haveria? (...) Todas estas lembranças tristes me
vêm ao pensar na casa da minha amiguinha
loura, porque nela todos os anos nascia um e
morria outro... (...)
Não faz muito tempo eu vi minha amiguinha
loura... e quase comecei a chorar... Porque em
seus olhos já existe a expressão de sua mãe e
caminhava com duas crianças, uma mamando
e outra descalça, levada pela mão. Ah minha
amiguinha loura! Você será como sua mãe. Suas
filhas serão como você. E quando eu penso nisso,
mergulho num grande caos espiritual...
Este niño chiquito Esse pequenininho
no tiene cuna. Não tem berço
Su padre es carpintero Seu pai é carpinteiro
y le hará una E fará um
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Primavera
O último estribilho escapa e a cidade fica adormecida
nos gelos de janeiro.
Para fevereiro, como o sol brilha e tira o mofo,
as pessoas saem ao sol e levam merendas e penduram
redes nas oliveiras onde se ouve o mesmo
ui-ui das montanhas do norte.
Os meninos crescidos se abaixam para ver as
pernas das meninas que estão no balanço, os
maiores com o rabo do olho. O ar ainda está frio.
Agora as ruas dos arrabaldes estão tranquilas.
Alguns cachorros, o ar das oliveiras e de repente,
plas! Um balde de água suja que jogam de uma
porta. Mas os olivais estão carregados.
O povo canta nos arredores de Granada com a
água oculta sob um leve tempero de gelo.
A los olivaritos Às oliveiras
Voy por las tardes vou pelas tardes
A ver cómo menea para ver como se move
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la hoja el aire, a folha o ar,
la hoja el aire, a folha o ar,
A los olivaritos Às oliveiras
Voy por las tardes vou pelas tardes
A mais pura sobrevivência clássica anima esses
cantos dos olivais.
Ao anoitecer voltam as pessoas das plantações
e em muitos lugares prossegue a reunião com
timidez.
Mas ao chegar a primavera e os brotos verdes
das árvores, começam a abrir-se as varandas e a
paisagem se transforma de um modo insuspeitado.
Chegamos da neve para cair (...) em todos
os perfis do sul.
E as meninas começam a estar nas ruas e na
minha infância um poeta vulgar a quem chamavam
Miracéu ia sempre sentar-se em um banco
dos jardins:
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A Poesia
Se encheu de luzes
Meu coração de seda,
De sinos perdidos
De lírios e de abelhas,
E eu irei muito longe
Para além destas serras,
Para além dos mares
Perto das estrelas
Para pedir a Cristo
Senhor que me devolva
Minha alma antiga de menino,
Madura de lendas,
Com gorro de plumas
E o sabre de madeira
Mas o que vou dizer da poesia? O que vou dizer
destas nuvens, deste céu? Olhar, olhar, olhá-las,
olhá-lo e nada mais. Compreenderás que um poeta
não pode dizer nada da poesia. Isso a gente deixa
para os críticos e professores. Mas nem você nem
eu nem nenhum poeta sabemos o que é a poesia.
Aqui está: olha. Tenho o fogo em minhas mãos.
Eu o entendo e trabalho com ele perfeitamente,
mas não posso falar dele sem literatura.
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A literatura é a literatura e aquele que se empenhe
visceralmente em ser literato demonstra
ser completamente bobo. A vida está cheia de
caminhos e em todos há coisas amargas e doces
para a gente encontrar.
A poesia é algo que anda pelas ruas. Que se
move, que passa ao nosso lado. Todas as coisas
têm o seu mistério e a poesia é o mistério que
contém todas as coisas. Se passamos junto de um
homem, se olhamos uma mulher, se adivinhamos
a marcha oblíqua de um cão, em cada um desses
objetos humanos está a poesia.
Por isso não concebo a poesia como abstração,
mas sim como uma coisa real existente, que
passou junto de mim. Todas as pessoas dos meus
poemas existiram. O principal é encontrar a
chave da poesia. Quando se está mais tranquilo,
então, zás, se abre a chave e o poema aparece
com sua forma brilhante.
(...) A poesia não tem limites. Pode nos esperar
sentada na soleira da porta, nas madrugadas
frias quando se volta com os pés cansados e a
gola do casaco levantada. Pode estar nos esperando
na água de uma fonte, trepada na flor de
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uma oliveira, posta para secar no pano branco
estendido no terraço da casa. O que não se pode
fazer é propor uma poesia com rigor matemático.
Daquele que vai comprar um litro e meio
de azeite. (...) Estamos num lago asfixiante de
vulgaridade e sobre ele quero que minha caravela
fantástica vá até o templo do magnífico
com as velas infladas de neve e de sol. Eu sou
como uma ilusão antiga feita carne e ainda que
meu horizonte se perca em crepúsculos formidáveis
de enamoramentos, tenho uma corrente
como Prometeu e me custa muito trabalho
arrastá-la... em vez de águia, uma coruja me rói
o coração. (...)
Porque não sou um homem, nem um poeta, nem
uma folha, mas sim um pulso ferido que sonda
as coisas do outro lado.(...)
Sou um grande romântico e este é o meu maior
orgulho. Num século de zepelins e de mortes
estúpidas, soluço diante do meu piano sonhando
na bruma Haendeliana e faço versos muito
pessoais cantando tanto para Cristo quanto
para Buda, Maomé ou Pan. Por lira tenho meu
piano e em vez de tinta, suor de desejo, pó-
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len amarelo da minha açucena interior e meu
grande amor.
(...)
Há que ser religioso e profano. Reunir o misticismo
de uma severa catedral gótica com a
maravilha da Grécia pagã. Ver tudo, sentir tudo.
Na eternidade teremos o prêmio por não haver
tido horizontes. (...)
Temos que amar a lua sobre o lago da nossa
alma e fazer nossas meditações religiosas sobre
o abismo magnífico dos crepúsculos abertos...
porque a cor é a música dos olhos...
Há que sonhar. Pobre daquele que não sonha,
pois nunca verá a luz..
Compreendo que tudo isso é muito lírico, demasiadamente
lírico, mas o lirismo é o que me
salvará diante da eternidade
Me sinto cheio de poesia, poesia forte, simples,
fantástica, religiosa, má, funda, canalha, mística.
Tudo, tudo. Quero ser todas as coisas. Bem sei
que a aurora tem a chave escondida em bosques
raros, mas eu a saberei encontrar.

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Verão
De maio a junho Granada é um tocar de sinos
incessante. Os estudantes não podem estudar.
Duas comadres se encontram na saída do Humilladero,
por onde entraram os reis católicos:
Comadre, de dónde vienes?
Comadre, vengo de Granada.
Comadre, qué passa allí?
Comadre, no pasa nada,
están haciendo cestillos
y repicando las campanas.
Comadre, de onde vens?
Comadre, venho de Granada.
Comadre, o que passa aí?
Comadre, não passa nada,
Estão fazendo cestinhos
E repicando os sinos.
Na praça de Bibarrambla os sinos da catedral,
sinos submarinos com algas e nuvens,
não deixam falar os camponeses. Os sinos de
San Juan de Dios lançam no ar um retábulo
barroco
de lamentos e socos de bronze e no
entanto
a Alhambra está mais sozinha do
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que nunca, mais vazia do que nunca, esfolada,
morta, alheia à cidade, mais longínqua
do que nunca. Mas nas ruas há carrocinhas
de sorvete, barracas de pão de azeite com
passas e gergelim e homens que vendem
quebra-queixos de mel com grão-de-bico.
Logo as granadinas com seus formosos braços
desnudos e seus ventres como magnólias escuras
abrem na rua guarda-sóis verdes, laranjas, azuis,
entre o frenesi das iluminações e dos violinos e
dos carros enfeitados...
Pelo lado da rua da Elvira, da Velhíssima:
Rua da Elvira
Onde vivem as manolas
As que sobem a Alhambra
As três e as quatro sozinhas,
Calle de Elvira
donde viven las manolas,
las que suben a la Alhambra
las tres y las cuatro solas,
Ali, cantam essa canção:
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Canción de otoño en Castilla
A los áboles altos
Los lleva el viento
Y a los enamorados
El pensamiento.
Me digam vocês se isso não é de uma grande beleza.
Quer mais poesia que isso? Já podemos nos calar, todos
que escrevemos e pensamos poesia diante dessa
magnífica poesia que “fizeram” os camponeses.
Mas já não lhes disse que as canções vivem? Pois
esta viveu nos lábios do povo e o povo a embelezou,
a completou, a depurou até chegar a essa
maravilha que temos hoje diante de nós. Porque
isso cantam os camponeses. Nas casas da cidade
não se canta isso.
Neste momento dramático do mundo, o artista
deve chorar e rir com o seu povo. Há que deixar
o ramo de açucenas e se enfiar na lama até a
cintura para ajudar os que buscam as açucenas.
Particularmente tenho uma ânsia verdadeira
em comunicar-me com os demais. Por isso bati
nas portas do teatro e ao teatro consagro toda
a minha sensibilidade.

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O Teatro
O teatro foi sempre a minha vocação. Dei ao
teatro muitas horas da minha vida. Tenho um
conceito de teatro de certa forma pessoal e resistente.
O teatro é a poesia que se levanta do
livro e que se faz humana. E ao fazer isso, fala
e grita, chora e se desespera. O teatro necessita
que os personagens que aparecem em cena
levem um traje de poesia e ao mesmo tempo é
preciso que se vejam seus ossos, o sangue. Hão de
ser tão humanos, tão horrorosamente trágicos
e ligados à vida e ao dia com uma tal força, que
lhes mostrem as traições, que se lhes apreciem os
cheiros e que lhes saiam dos lábios toda a valentia
de suas palavras cheias de amor ou de asco.
O que não pode continuar é o que hoje sobe aos
palcos levados pela mão dos seus autores. São
personagens ocos, totalmente vazios, a quem só
se pode ver através do colete um relógio parado,
um osso falso ou um cocô de gato, desses que se
encontram por aí. Hoje, na Espanha, a maioria
dos autores e dos atores ocupam uma zona apenas
intermediária. Escreve-se no teatro para os
camarotes e não para o poleiro. Escrever para a
plateia principal é a coisa mais triste do mundo.
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O público que vai assistir fica frustrado . E o público
virgem, o público ingênuo, que é o povo,
não compreende por que se fala no teatro de
problemas desprezados por ele nos pátios da sua
vizinhança. Em parte os atores têm culpa. Não
é que sejam más pessoas, mas ... “Ouça, Fulano,
quero que você me faça uma comédia em que eu
faça... eu mesmo. Sim, sim: eu quero fazer isso e
aquilo. Quero estrear uma roupa de primavera.
Adoraria ter vinte e três anos. Não se esqueça.”
E, assim, não se pode fazer teatro. Assim, o que
se faz é perpetuar uma dama jovem através dos
tempos e um galã apesar da arteriosclerose. (...)
O teatro é um dos mais expressivos e úteis
instrumentos para a edificação de um país e o
barômetro que marca sua grandeza ou a sua
decadência. Um teatro sensível e bem-orientado
(...) pode mudar em poucos anos a sensibilidade
do povo; e um teatro destroçado, no qual as
patas substituem as asas, pode embrutecer e
adormecer uma nação inteira.
O teatro é uma escola de pranto e riso e uma
tribuna livre onde os homens podem colocar,
em evidência, morais velhas ou equivocadas e
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explicar com exemplos vivos normas eternas do
coração e do sentimento do homem.
Um povo que não ajuda e não fomenta o seu
teatro, se não está morto está moribundo;
como o teatro que não colhe a pulsação social,
a pulsação histórica, o drama de suas gentes e a
cor genuína de sua paisagem e de seu espírito,
com riso ou com lágrimas, não tem o direito
de chamar-se teatro. Não me refiro a ninguém
nem quero machucar ninguém; não falo da
realidade viva, mas sim do problema levantado
sem solução.
Escuto todos os dias, queridos amigos, falar da
crise do teatro e sempre penso que o mal não
está diante dos nossos olhos, mas sim no mais
escuro de sua essência: não é um mal de flor
atual, ou seja, de obra, mas sim de profunda
raiz, que é em suma, um mal de organização. (...)
O teatro deve se impor ao público e não o
público ao teatro. Para isso, autores e atores
devem revestir-se, a custa de sangue, de grande
autoridade, porque um público de teatro é
como as crianças nas escolas; adora o professor
sério e austero que exige e faz justiça e enche
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de agulhas crueis as cadeiras em que se sentam
os professores tímidos e aduladores que não
ensinam nem deixam ensinar.
Há necessidade de fazer isso para o bem do teatro.
Há que manter atitudes dignas. O contrário
seria matar as fantasias, a imaginação e a graça
do teatro, que é sempre, sempre uma arte. Arte
acima de tudo. Arte nobilíssima. E vocês, queridos
atores, artistas acima de tudo. Artistas dos
pés à cabeça, já que por amor e vocação subiram
ao mundo fingido e doloroso do palco. Artistas
por ocupação e preocupação,desde o teatro mais
modesto ao mais importante se deve escrever
a palavra “Arte” em salas e camarins, porque
senão vamos ter que pôr a palavra “Comércio”
ou alguma outra que não me atrevo a dizer. E
trabalho, disciplina, sacrifício e amor.
Não quero dar-lhes uma lição porque me encontro
em condição de recebê-la. Minhas palavras
são ditadas pelo entusiasmo e pela segurança.
Não sou um iludido. Pensei muito e com frieza,
o que penso, e, como bom andaluz, possuo o
segredo da frieza porque tenho sangue antigo.
Sei que não possui a verdade aquele que
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diz “hoje, hoje, hoje”, com os olhos postos nas
pequenas goelas da bilheteria, mas sim o que
serenamente olha lá longe a primeira luz na
alvorada do campo e diz “amanhã, amanhã,
amanhã” e sente chegar a nova vida que se
derrama sobre o mundo.
(...) Sabe outra coisa? Na arte não se deve nunca
ficar quieto nem satisfeito. Há que ter a coragem
de quebrar a cabeça contra as coisas e a vida... A
cabeçada... depois a gente vê o que acontece...
Já veremos onde está o caminho . Uma coisa que
também é primordial é respeitar os próprios instintos.
O dia em que se deixa de lutar contra seus
instintos, esse dia em que se deixa de lutar contra
seus instintos, nesse dia aprendemos a viver.

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A Morte
Quero expressar o que passou por mim através
de outro estado de espírito e revelar as longínquas
modulações do meu outro coração. Isso
que faço é puro sentimento e vaga recordação
da minha alma de cristal. (...)
Cada dia que passa, tenho uma ideia e uma tristeza
a mais. Tristeza do enigma de mim mesmo!
Existe em nós um desejo de não querer sofrer e
de bondade inata, mas a força exterior da tentação
e a abrumadora tragédia da fisiologia se
encarregam de destruir. Acredito que tudo que
nos rodeia está cheio de almas que passaram,
que são as que provocam nossas dores e são as
que nos fazem entrar no reino onde vive essa
virgem branca e azul que se chama Melancolia...
ou seja, o reino da poesia.
Vivo rodeado de morte! De morte, de morte
física. Da minha morte, da tua e da morte dele.
Compreende? Digam-me: por que a morte me
ronda? (...) Vim para isso?
A morte... Ah ! Em cada coisa há uma insinuação
de morte. A morte está em todas as partes. É a
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dominadora... A quietude, o silêncio, a serenidade
são aprendizados. Há um começo de morte
nos momentos em que estamos quietos. Quando
estamos numa reunião, falando serenamente,
olhe os sapatos dos presentes. Irão vê-los quietos,
horrivelmente quietos. São objetos sem gestos,
mudos e sombrios, que nesses momentos não
servem para nada, estão começando a morrer...
Os sapatos, os pés, quando estão quietos, têm
um obsessivo aspecto de morte. Ao ver uns pés
quietos, com essa quietude trágica que somente
os pés sabem adquirir, a gente pensa : dez,
vinte, quarenta anos mais e sua quietude será
absoluta. Talvez uns minutos. Talvez uma hora.
A morte está neles.
Não posso me deitar de sapatos na cama, como
costumam fazer os que têm as articulações inchadas
quando se põem a descansar. Quando
olho meus pés , a sensação da morte me afoga.
Os pés, assim apoiados sobre seus calcanhares,
com as plantas voltadas para a frente, me fazem
recordar os pés dos mortos que vi quando
criança. Todos estavam nessa posição. Com os
pés quietos, juntos, com sapatos sem estrear...
E isso é a morte.
66
Agora descobri uma coisa terrível (mas não conte
para ninguém). Ainda não nasci. No outro dia,
observava atentamente o meu passado (estava
sentado na poltrona do meu avô) e nenhuma das
horas mortas me pertencia porque não fui eu
quem as vivi, nem as horas de amor, nem as horas
de ódio, nem as horas de inspiração. Havia mil
Federicos Garcías Lorcas estendidos para sempre
no desvão do tempo; e no armazém do futuro,
contemplei outros mil Federicos Garcías Lorcas
muito bem-passadinhos, uns sobre os outros,
esperando que os enchessem de gás para voar
sem direção. Foi este momento um momento
terrível de medo, minha mãezinha Dona Morte
me havia dado a chave do tempo e por um
instante compreendi tudo. Eu vivo emprestado,
o que tenho dentro não é meu, veremos se
vou nascer.(...)

68
O Outono Outra vez
Temos que ir na ponta dos pés por este caminho
de terra vermelha, bordeado de figueiras, a
uma reunião agrupada numa curva do monte.
Bailam e cantam. Acompanham-se com violão,
castanhola e ainda tocam instrumentos pastoris,
pandeiros e triângulos.
São as pessoas que cantam as “roas” e as “alboreás”
e as “cachuchas” e este “zorongo” que
tanto influenciou a música de Manuel de Falla.
Zorongo
Tengo los ojos azules
Tengo los ojos azules
Y el corazoncillo igual
Que la cresta de la lumbre
Las manos de mi cariño
te están bordando una capa
con agremán de alhelíes
y con esclavina de agua.
Cuando fuiste novio mío,
por la primavera blanca,
los cascos de tu caballo
cuatro sollozos de plata.
69
La luna es un pozo chico,
las flores no valen nada,
lo que valen son tus brazos
cuando de noche me abrazan.
Zorongo
Eu tenho os olhos azuis
Eu tenho os olhos azuis
E o coraçãozinho igual
A uma crista de luz
As mãos deste meu carinho
Te vão bordar uma capa
Com o ponto de aleri
E com fios feitos d´água.
E quem namorou comigo
Numa primavera branca
Os cascos de seu cavalo
Quatro soluços de prata.
A lua é um poço triste
As flores não valem nada
O que valem são teus braços
Quando de noite me abraçam
70
Chegamos ao último raio da roda.
A roda, que gire a roda.
O outono surge pelas alamedas.
E surgem as feiras com nozes, com açafrão, com
multidão de marmelos, com torres de jalluyos e
pães de açúcar da padaria do Corzo.
(...) É um canto confuso o que se ouve. É todo o
canto de Granada ao mesmo tempo: rios, vozes,
cordas, ramagens, procissões, mar de frutas e
tchamtchamtchim de balanços.
Anda jaleo, jaleo; ya se acabó el alboroto
y ahora empieza el tiroteo.
Mas acabada a alegria e o outono com ruído de
água vem tocando em todas as portas.
Tam, tam.
Quem é?
O outono outra vez.
O que quer de mim?
O frescor da tua face.
Não quero te dar.
Eu vou te tirar.
71
Tam, tam.
Quem é?
O outono outra vez.
Os canteiros de terra se enchem de mato com
a primeira chuva. Como faz uma temperatura
fresquinha as pessoas não vão aos jardins e Miracéu
está sentado na sua mesa com um braseiro
embaixo . Mas os crepúsculos enchem todo o
céu; as enormes nuvens anulam a paisagem e as
luzes mais raras patinam sobre os telhados ou
dormem na torre da catedral. Outra vez ouvimos
a voz da verdadeira melancolia:
Acontece que as crianças não querem ir à escola
porque jogam pião.
Acontece que nas salas começam a acender lamparinas
para o finados.
Acontece que estamos em novembro.
Há um cheiro de palha queimada e as folhas
começam a apodrecer aos montes, lembram?
Chove e as pessoas estão nas suas casas.
Mas no meio da Porta Real já se encontram várias
lojinhas de tambores.
72
Uma menina de Armilla ou de Santa Fé ou de
Atarfe, com um ano a mais, talvez vestida de
luto, canta para os filhos de seus senhores:
De los cuatro muleros Dos quatro muleiros
que van al agua, que vão buscar água,
el de la mula torda o da mula malhada
me roba el alma. me rouba a alma.
¿A qué buscas la lumbre Por que buscas o lume
la calle arriba, na rua de cima,
si de tu cara sale se da tua cara
la brasa viva? sai a brasa viva?
Demos a volta ao ano. Assim será sempre. Antes
e agora. Nós vamos e Granada fica. Eterna no
tempo e fugitiva nestas pobres mãos do mais
simples e pequeno de seus filhos.
Fim
73
Cronologia
1898
Nasce na aldeia de Fuente Vaqueros, Granada,
em 5 de junho. Filho de Federico García Rodriguez,
proprietário agrícola, casado em segundas
núpcias com Vicenta Lorca Romero, professora
primária.
1900
Entre 1900 e 1907 nascem dois irmãos e duas
irmãs de Federico: Luís, morto em pequeno,
Francisco, Concepción e Isabel. Aprende a ler
com sua mãe.
1908
Vai morar em Almería onde ingressa no Instituto
de Ensino Médio daquela capital. Seus divertimentos
favoritos são dizer a missa e improvisar
sermões e cerimônias religiosas para os meninos
de sua idade.
1909
A família Lorca se muda para o centro de Granada,
Federico volta de Almería e ingressa no
Colégio do Sagrado Coração de Jesus.
Porta da escola de Fuente Vaqueros, de chapéu
Com 6 anos - 1904
78
Alterna os estudos secundários com os de música:
violão, harmonia e piano. Começa a se interessar
pelo folclore espanhol e pelos cancioneiros. Um
dia, o menino Federico viu na praça do povoado,
um espetáculo de artistas mambembes. Aquilo
transformou o menino, que chegando em casa
construiu com sua imaginação e alguns trapos
de papelão o seu próprio teatro. E ali, no seu
palco de brinquedo, ele descobriu uma das suas
paixões: o teatro de bonecos.
1915
Ingressa na Universidade de Granada estudando
Filosofia, Direito e Letras. Conhece e trava relação
pessoal com o catedrático de Direito Político,
Fernando de los Ríos. Frequenta os meios artísticos
e intelectuais da cidade.
1916
Excursões estudantis culturais pela Andaluzia e
pelo resto da Espanha.
1917
Fantasia Simbólica seu primeiro trabalho em
prosa publicado, aparece no Boletin del Centro
Artístico e Literário de Granada.
79
1918
Impressões e Paisagens, primeiro livro em prosa,
inspirado em parte pelas excursões de 1916.
Viagem inicial à capital da Espanha onde espera
ingressar na Residencia de Estudiantes. Entra
em contato com alguns dos poetas da futura
geração de 1927: Amado Alonso, Gerardo Diego,
Pedro Salinas, Ciria, Guilhermo de Torre, etc.
1919
Granada, primeira composição poética impressa,
conhecida, aparece na revista granadina
Renovación. Tem o subtítulo de Elegia humilde.
Instala-se na Residencia de Estudiantes de Madri,
que será seu domicilio na capital da Espanha até
1928. Prossegue os estudos de Direito. Conhece
Manuel de Falla que, a partir de 1920, se mudará
em definitivo para Granada.
1920
O Sortilégio da Mariposa, primeira obra teatral
de Federico, estreia em Madri, mas a peça fracassa.
Durante os verões granadinos cultiva a
amizade de Manuel de Falla e a de Fernando de
los Ríos, que anos depois promoveu sua viagem
aos Estados Unidos, e aprovou, mais adiante,
Anos 1920
Anos 1920
Anos 1920
83
o projeto da La Barraca. Regressa a Madri e se
matricula na Faculdade de Filosofia e Letras da
Universidade Central.
1921
Livro de Poemas, seu primeiro livro de versos, é
editado em Madri. Colabora na revista Índice.
No diário El Sol, aparece o primeiro artigo de
crítica sobre a poesia de Federico, assinado por
Adolfo Salazar.
1922
Conferência sobre o Cante Jondo, no Centro
Artístico de Granada. Espetáculo de marionetes,
organizado por Federico no qual pretende sondar
a possibilidade de ser levado à cena com o
Retábulo de Mestre Pedro, de Falla.
1923
Continua interessado pelo teatro de bonecos.
Forma-se em Direito. Compõe e recita para os
amigos os primeiros poemas do latente Romanceiro
Gitano. Primeira leitura de Mariana Pineda.
Reincorporado à Resistência madrilenha, conhece
e inicia amizade com Salvador Dalí, ainda
ignorado como pintor.
Com sua irmã Isabel
Com Salvador Dali, Cadaqués - 1925
Com Salvador Dali, Madri - 1927
Com Salvador Dali, Cadaqués - 1927
88
1924
Prossegue a composição de Romanceiro Gitano
e registra a ideia de Dona Rosita, a Solteira ou
A Linguagem das Flores. Trabalha no livro Canções.
Conhece o pintor Gregório Prieto e o poeta
Rafael Alberti, que serão seus grandes amigos.
1925
Termina, em Granada, Mariana Pineda. Escreve
várias narrativas surrealistas: Passeio de Buster
Keaton e A Donzela, o Marinheiro e o Estudante.
Viaja em novembro à Catalunha e se hospeda
em casa da família Dalí, em Cadequés.
1926
A Revista do Ocidente publica Ode a Salvador
Dalí. Passa o verão em Granada, empreende a
redação de A Sapateira Prodigiosa.
1927
Publica Canções. Mariana Pineda estreia em
Barcelona com figurinos e cenários concebidos
com a colaboração de Federico e Salvador Dalí.
Em outubro a peça estreia em Madri. Entre as
duas estreias, Federico expõe uma coleção de
desenhos em Barcelona e veraneia em casa da
família Dalí. Replaneja e concretiza em Grana-
89
da o projeto da revista literária de vanguarda
Galo.
1928
Romanceiro Gitano, com poemas datados de
1924 a 1927, é publicado em Madri. Em fevereiro,
foi publicada em Granada a revista Galo,
dirigida por Francisco García Lorca, irmão do
poeta, futuro diplomata, ensaísta e professor
de literatura na América do Norte: o número 2
da revista aparece em abril e acaba.
1929
Amor de Dom Perlimplim com Belisa em seu
Jardim. A peça teatral é proibida pela censura.
Federico desfruta a popularidade e a estima
nos palcos da capital espanhola. O autor parte
para os Estados Unidos onde permanece até
meados do ano seguinte. Antes de incorporar-
-se à Universidade de Columbia passa por Paris,
Londres, Oxford e Escócia. Começa O Poeta em
Nova Iorque.
1930
A Sapateira Prodigiosa estreia em Madri. O poeta
havia regressado dos Estados Unidos e de
Cuba onde esteve convidado pela Institución
90
Hispano-Cubana de Cultura para dar um ciclo de
conferências. Lê para amigos Assim que Passem
Cinco Anos e O Público.
1931
Poema do Cante Jongo é editado em Madri. O
país derrota a monarquia nas urnas e dá vitória
à Republica. Federico participa de entusiastas
e pacíficas manifestações populares que aclamavam
o novo regime. Trabalha no Divã do
Tamarit e, ao mesmo tempo, expõe os primeiros
projetos para fundar o teatro universitário
ambulante La Barraca. Grava com a cantora e
bailarina Encarnación López Julvez, La Argentinita,
uma série de discos de música folclórica
espanhola sendo este o único registro de Lorca
tocando piano.
1933
Estreia em Madri Bodas de Sangue. Trabalha em
vários livros de poesia, projeta uma trilogia dramática
da qual Yerma seria a segunda peça. Sua
família transfere-se para Madri. Desembarca em
Buenos Aires convidado para dar conferências,
recitais e dirigir as representações de algumas de
suas obras. Primeiro encontro com Pablo Neruda.
Na Alhambra - 1927
Em Cuba - 1930
Em La Barraca
94
1934
Retábulo de Dom Cristóvão, farsa de títeres, estreia
em Buenos Aires. Yerma estreia em Madri
no Teatro Espanhol. A permanência de Federico
em Buenos Aires se dilata até final de março.
Antes de retornar, visita o Uruguai. O navio faz
uma escala no Rio de Janeiro onde é presenteado
com uma bandeja de borboletas brasileiras por
Alfonso Reyes, então embaixador do México.
Em Madri, reencontro com Pablo Neruda; idas
ao norte da Espanha com La Barraca.
1935
Pranto por Ignácio Sánchez Mejías é publicado.
Em Barcelona estreia de Dona Rosita no teatro
Principal Palace. Estrondoso sucesso: personalidades,
políticos, intelectuais, artistas, público
acolhem e aplaudem o poeta granadino que
triunfa em Barcelona. As vendedoras de flores
das Ramblas o reconhecem e o rodeiam agradecendo
uma das representações da comédia,
dedicada ao sindicato delas. Durante o veraneio
em Granada pretende terminar Divã do
Tamarit.
Com La Argentinita
Em Montevidéu - 1934
Com sua mãe, Vicenta - 1935
Madri, 17 de abril de 1936
99
1936
Primeiras Canções / Bodas de sangue (edição) /
A Casa de Bernarda Alba (leitura).
Em julho, poucos dias antes de rebentar a guerra
civil, foi realizada nova leitura da peça em Madri.
Na segunda quinzena de julho, estoura a guerra
civil. Todos os artistas e intelectuais de esquerda
deixam o país. Quase no último trem de Madri,
o poeta recusa um convite de Margarita Xirgu
para se refugiar no México e escolhe voltar à sua
Granada. Instala-se na Huerta de San Vicente,
casa de veraneio que a família possui nos arredores.
Federico vive oculto, uma vez que estava
sendo perseguido pelos fascistas.
Em agosto, consegue fugir da casa de campo
para se refugiar na cidade, na casa do poeta Luis
Rosales. Em 16 de agosto, o poeta é descoberto
e preso. Horas, ou dias depois, conduziram o
poeta ao pé da Serra de Alfacar ao lado de uma
fonte chamada pelos mouros de Ainadamar ou
fonte de lágrimas. Lá, foi fuzilado e enterrado
em uma fossa aberta em pleno campo, sob as
oliveiras. Desconhece-se a data exata do crime.
100
O atestado de óbito, redigido quatro anos
depois, em 1940, explica: ...faleceu no mês de
agosto de 1936 em consequência de feridas causadas
por ação de guerra... Seu corpo nunca foi
encontrado. Em Granada, Federico García Lorca
virou terra e flores.
101

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